Capítulo 13


13.
Cego pela adrenalina do momento e com o punhal nas mãos, tentei evitar ser mais um dos desconhecidos que pendiam sem vida naquela parede.
Segurei com força o braço do meu oponente que empunhava a navalha para evitar ser atingido com outro golpe. Ele, com a mesma ideia de autoproteção, segurava-me pelo pulso que o punhal era firmemente mantido. Eram duas pessoas lutando pela vida tão em falta naquela sala. Entretanto, uma delas tinha a vantagem da força. Por ser o mais forte, empurrei o outro corpo contra a parede. Pude ouvir um barulho surdo batendo no concreto seguido de um gemido. Senti uma dor forte após um chute certeiro na virilha. Caí ao chão e mais um golpe me alcançou. A faca penetrou o meu ombro a poucos centímetros do pescoço. A dor do objeto rasgando a minha carne e atingindo o osso foi aguda. Num contra-ataque desferi uma punhalada em sua barriga. Senti o sangue quente banhar a minha mão. Stela caiu ao chão olhando-me assustada.
"Porque eu? Sou uma boa pessoa."
Observei naqueles olhos a pureza da mulher que eu abraçava. As minhas lágrimas saltaram impiedosas. Abri a boca tentando dizer algo, mas as palavras não saíram. Então, tomei o livro em minhas mãos e o lancei para longe. Porque aquilo estava acontecendo? Eu não conseguia me lembrar do conjunto de fatos que me levou até ali. Novamente, quis estar  longe. Fugir para um lugar deserto onde as horas não fossem importantes. Onde eu pudesse chorar o amargor destes dias miseráveis. Ela me olhava esperando explicações e eu retribuía com outro olhar de dúvida. Um pouco de sangue espesso escapou pela sua boca e após um longo suspiro ela desfaleceu.
Estava prestes a dizer que a amava. Quando ouvi um estalo seco e, em seguida, uma dor forte me queimando por dentro. Meu sangue escorreu pela ferida aberta, misturando-se com o sangue da minha amada. Olhei para trás e percebi uma figura conhecida com arma em punho dizendo algo que não consegui compreender. Caí ao lado dela e pude sentir o cheiro doce que escapava de sua pele perfumada. O policial se aproximou e chutou o punhal para longe de mim que escorregou pelo piso escondendo-se sob um armário na sala. Antes de desfalecer uma imagem penetrou a minha retina trazendo à tona todas as lembranças esquecidas. Compreendi a minha função dentro daquela história maldita. O  livro que eu jogara pelo canto estava aberto na página em que tinha escrito o nome daquela mulher. A folha que antes era alva como nuvem tornou-se escura como a minha visão. Antes de morrer, ouvi o relógio, que pendulava continuamente na sala, cantando a hora do meu último suspiro.


Imagem: tvabcd e wallinside